quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"O armarinho rosa": um pensamento sobre publicidade infantil


Eu sou estudante do 8º semestre de publicidade, mas antes de querer ser e de estar me formando nessa especialidade, eu tive pais muito conscientes na minha infância, que falavam abertamente(nem por isso de maneira grossa) que não iam comprar o armarinho da Barbie, com pecinhas fofas e em miniatura do jeito que eu gostava, porque este custava caro e eles não tinham dinheiro para me dar. Eu chorava? Óbvio que eu chorava. Eu era uma criança que tinha amiguinhas que tinham o armarinho e que, apesar de ser estimulada “precocemente” a ter consciência sobre a situação financeira dos meus pais, eu tinha um desejo pelo armarinho rosa com pecinhas cuti-cuti, fofinhas.

Mas de onde veio essa minha vontade? Pois as pecinhas do armário, eu tinha quase todas: os copos, garfos, colheres e pratos, só que eles foram comprados separados, não arrumadinhos daquele jeito e não eram produtos exclusivos e caros Matel. E quem foi que colocou na minha cabeça que se as minhas coleguinhas tinham, eu também tinha que ter?

No dia em que eu chorei no meio do centro da cidade e fui magoada para casa com os meus pais, foi o dia em que o fator amolação(aquilo que a criança faz de ficar pedindo, pedindo, pedindo direto) venceu a pequena consciência que eu tinha sobre as condições da minha família. E esse fator possivelmente, ou quase com certeza, foi imposto por algum anúncio que eu vi, por algum comportamento “eu-tenho-você-não-tem” de alguma colega, o qual, também é influenciado pela publicidade.

Pois bem, então quer dizer que eu quero acabar com a publicidade da Matel, da Estrela, da Tang, falir todas e deixar milhões de crianças sem brinquedo?

Sim e mais ou menos.

O que nós do GRIM propomos é acabar com a Publicidade Infantil e somos contra a criação do desejo(mais pra necessidade?) excessivo, que faz com que a criança só se ache “feliz”, se ela tiver todos aqueles brinquedos da vitrine.

O que esperamos é que os pais sejam sensatos e saibam que seus filhos não precisam dessa quantidade de brinquedos, que só porque ele, o filho, não tem aquele boneco de um metro e meio do Ben 10, ele deva ser desmerecido pelos colegas, que se todo dia e toda hora o seu filho beber suco Tang, ele ficará acostumado aquilo e provavelmente não vai gostar de um suco natural, etc.

Justamente por esperarmos essa consciência dos pais, é que propomos que a publicidade seja dirigida a eles. Então no intervalo do jornal Nacional o pai ficará só vendo anúncios de brinquedos e alimentos voltados pra criança?

E por que as crianças, no horário dos seus programas - pensando nos canais comerciais – podem ser “bombardeadas”? E por que um pai não pode passar 3 minutos vendo produtos rosa e carrinhos, mas quer que sua filha ou filho veja e depois o vá “perturbar” por um?

Ao imaginarmos uma dinâmica em que a publicidade é voltada para os pais, em que ela passe em horários em que eles assistam TV, nós podemos supor que, pelo menos, estas publicidades não serão tão absurdamente frequentes, uma disputando com a outra como é no horário da programação infantil. E por mais que nós saibamos que na hora da novela das 21h, a criança também estará acordada, porém com a consciência esperada, a companhia dos pais e com uma conversa a respeito daquele produto, haverá uma facilidade desta entender se precisa mesmo ou não daquele brinquedo/alimento. Bem diferente dela estar vendo sozinha e apenas absorvendo aquela publicidade sem nenhum diálogo, não é mesmo?

Até hoje, 16 anos depois, eu nunca comprei o armarinho rosa da Barbie e após esse episódio, nunca mais briguei com meus pais por causa de algum brinquedo que eles não puderam comprar. Eu entendi e qualquer criança entende, é só conversar e fazer com o que o amor e a companhia sejam mais importantes do que qualquer produto de plástico. 

Texto de Jeanne Gomes (retirado do blog Zine Educação)


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